Blocos de rua cancelam participação no carnaval de SP antes de anúncio da prefeitura; grupo também não aceita participar de evento em Interlagos

Multidão de foliões curtem o desfile do bloco Acadêmicos do Cerca Frango, na Pompéia, Zona Oeste de SP, em 2019 — Foto: Ana Carolina Moreno/G1

Multidão de foliões curtem o desfile do bloco Acadêmicos do Cerca Frango, na Pompéia, Zona Oeste de SP, em 2019 — Foto: Ana Carolina Moreno/G1

Três entidades de blocos de rua de São Paulo publicaram nesta quarta-feira (5) um manifesto público em que cancelam a participação de cerca de 250 blocos no carnaval de rua de São Paulo e dizem que não aceitam participar de eventos fechados no Autódromo de Interlagos, na Zona Sul, como está sendo estudado. A Prefeitura deve anunciar a definição sobre o carnaval 2022 nesta quinta-feira (6).

No documento denominado “Te Amo São Paulo, mas não vou fazer seu Carnaval…”, as entidades do setor afirmam que “os blocos participantes dos Coletivos, em sua grande maioria, comunicam que não sairão às ruas neste Carnaval de 2022, mesmo que a festa seja autorizada” pela gestão municipal.

O manifesto dos blocos é assinado pelo Fórum de Blocos de Carnaval de Rua de São Paulo, pela União dos Blocos de Carnaval de Rua do Estado de São Paulo (UBCRESP) e pela Comissão Feminina de Carnaval de São Paulo. Essas entidades representam blocos tradicionais da cidade como Acadêmicos da Cerca Frango, Jegue Elétrico, Bloco do Abrava, Me Lembra Que Eu Vou, Sanatório Geral, Bloco Gambiarra, entre outros.

As entidades afirmam que “é obrigação do Poder Público ser rigoroso na observância das regras sanitárias em todos os eventos que já acontecem e vão acontecer na Cidade de São Paulo” e não aceitam alternativas que não seja a de preservar a vida dos paulistanos.

“Todos concordamos que o Carnaval não deixará de ser comemorado, inclusive por Blocos que assim desejarem, mas esperamos que cada grupo ou cidadão que queira celebrar a vida, o faça pensando na melhor forma de preservar a vida! (…) Não admitimos a hipótese de se realizar um evento de ‘Carnaval de Rua’ em lugares contidos, ao ar livre, como o Autódromo de Interlagos, Memorial da América Latina, Jockey Club, Sambódromo e outros. Isso é alternativa do setor privado”, afirmou o documento.

Prefeitura cancela o carnaval de rua e mantém desfiles na Sapucaí

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A carta dos blocos se antecipa à decisão da Prefeitura de São Paulo de cancelar ou não o carnaval de rua da cidade, como já aconteceu no Rio de Janeiro, em Salvador e Olinda.

O secretário da Saúde da capital paulista, Edson Aparecido, disse nesta quarta-feira (4) à GloboNews que uma reunião do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e representantes da Vigilância Sanitária deve acontecer nesta quinta-feira (6) para apresentar os estudos que vão embasar a decisão sobre o cancelamento das festividades.

Segundo Edson Aparecido, a gestão municipal estuda cancelar os festejos de rua e manter as apresentações das escolas de samba no Sambódromo do Anhembi, a exemplo do que foi anunciado pela Prefeitura do Rio de Janeiro.

A possibilidade de transferência dos eventos de rua para locais controlados, como Interlagos e o Memorial da América Latina, também foi ventilada pelas autoridades municipais em reuniões com os blocos, onde foi mencionado a possibilidade de maior controle de participantes e exigência do passaporte da vacina com duas doses.

Porém, as entidades de blocos de rua afirmam que esses controles não terão eficácia para impedir uma explosão dos casos da Covid-19 na cidade.

“Antes do Natal, fizemos experiências com ensaios restritos e o resultado foi assustador para muitos blocos. Mesmo em lugares abertos, com exigência de uso de máscara e apresentação da vacinação, muita gente dos blocos foi contaminada pela Covid. Isso acendeu o sinal de alerta pra gente de que não dá para confiar apenas nessas medidas para impedir e elevação dos casos da doença”, afirmou Thais Haliski, representante do Bloco Acadêmicos do Cerca Frango e fundadora da Comissão Feminina de Carnaval de São Paulo.

“A gente se reuniu e abriu a discussão entre os blocos por entender que é preciso tornar público essa nossa avaliação que eventos fechados com apresentação apenas do passaporte da vacina não vai impedir a proliferação da doença”, completou Haliski.

Bloco do cantor Bell Marques em 2020 — Foto: Marcelo Chello/Estadão Conteúdo

Bloco do cantor Bell Marques em 2020 — Foto: Marcelo Chello/Estadão Conteúdo

Na carta pública, as entidades de blocos de rua pedem que a Prefeitura de SP encontro alternativas de fomento para os blocos que precisam de ajuda financeira para se manterem ativos em São Paulo, já a cidade pode ter o segundo ano seguido sem os festejos públicos.

“Convocamos as Secretarias Municipais envolvidas tradicionalmente com o Carnaval de Rua a apresentarem, em nome da Cidade, alternativas realistas e exequíveis para o fomento da Arte , da Cultura e da Economia Informal relacionadas aos Blocos de Carnaval da cada Região de São Paulo, , considerando suas necessidades econômicas. (…) Pedimos que sejam oferecidos programas de fomento que alcancem específicamente todos os Blocos inscritos, dentro de uma proporcionalidade referente às suas necessidades, com aferição feita pelos mesmos em comissão constituída pelos atuais Coletivos Carnavalistas da Cidade”, afirmou o manifesto.

O coordenador do Fórum de Blocos de Rua de SP, José Cury, fundador do Bloco ‘Me Lembra que eu Vou’ – signatário do manifesto – afirma que a gestão municipal precisa pensar urgente em alternativas para fomentar a sobrevivência dos blocos em SP com a ausência do carnaval de rua pelo segundo ano seguido.

“Alguns blocos já protocolaram proposta na Prefeitura para que sejam financiadas pequenas festas nas periferias e sejam achadas outras alternativas para ajudar os grupos. Ideias não faltam, mas desde outubro que a gestão Nunes podia ter chamado os blocos para conversar e pensar num plano B, mas nada foi feito”, declarou.

Prefeitura cancela o carnaval de rua e mantém desfiles na Sapucaí

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Decisão diferente para as escolas de samba

Em 31 de dezembro, o secretário de Saúde da cidade de SP, Edson Aparecido, havia dita ao g1 e à GloboNews que é possível que haja diretrizes diferentes em relação aos desfiles das escolas de samba no Sambódromo do Anhembi e ao carnaval de rua da capital paulista, a exemplo do Rio de Janeiro.

O secretário explicou que isso se deve ao fato de o Sambódromo do Anhembi, na Zona Norte, ter uma espécie de “controle” de público, cenário diferente do carnaval de rua.

O local pode adotar práticas fundamentais para o controle da pandemia como a exigência do passaporte da vacina para que as pessoas tenham acesso ao Anhembi e também a obrigatoriedade do uso de máscaras.

Segundo o secretário, o avanço da variante ômicron é uma das preocupações da Vigilância Sanitária municipal, que pesará na análise dos técnicos.

696 blocos

Apesar da preocupação, a Prefeitura de São Paulo aprovou, na quinta-feira (30), os desfiles de 696 blocos para o carnaval de 2022. A autorização foi publicada no Diário Oficial do Município.

Em nota, a Secretaria Municipal das Subprefeituras ainda celebrou o número, por representar um marcador inédito: segundo a pasta, é a maior quantidade de blocos registrada na história da cidade.

A gestão municipal também afirma que 64 desfiles foram cancelados, sendo 23 deles por não retornarem o contato para o envio de todas as informações.

Artistas cancelaram blocos de carnaval em São Paulo em 2022 — Foto: Reprodução

Artistas cancelaram blocos de carnaval em São Paulo em 2022 — Foto: Reprodução

Nova variante avança

A variante ômicron da Covid-19 já representa 50% de prevalência dos novos casos confirmados da doença na cidade de São Paulo, segundo levantamento divulgado pela prefeitura da capital paulista.

Neste momento, o município contabiliza 69 casos da nova variante. Os dados são preliminares, e o sequenciamento genético das variantes da doença foi feito em parceria com o Instituto Butantan.

Desde a descoberta da variante delta, ainda predominante na capital, a prefeitura afirma que não interrompeu e sempre ampliou o monitoramento genômico de novos diagnósticos.

Semanalmente, a Secretaria municipal da Saúde envia para os institutos Butantan, de Medicina Tropical da USP, e Adolfo Lutz, cerca de 300 amostras para análise, sequenciamento genômico e monitoramento dos casos, o que representa cerca de 40% das amostras positivas.

Entenda a dupla infecção simultânea por gripe e Covid-19

Trata-se de um número amostral representativo, uma vez que o processo de genotipagem é utilizado justamente para monitorar os tipos de cepas circulantes na cidade.

Pelo menos 110 moradores da cidade de São Paulo foram diagnosticados com gripe e Covid-19 ao mesmo tempo desde o início da pandemia, segundo dados divulgados nesta terça-feira (4) pela Secretaria da Saúde da capital.

Na capital paulista, há relatos de hospitais que identificaram a dupla infecção pelos vírus Influenza e coronavírus com diagnósticos feitos na mesma semana ou até no mesmo dia.

Em outros lugares do Brasil, como Rio de Janeiro e Ceará, também há registros.

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